quinta-feira, 17 de novembro de 2016

FUNDAMENTOS DO MÉTODO EVOLUTIVO

Olá leitores! 

Tenho o prazer de anunciar que depois de muito trabalho está no ar o site MÉTODO EVOLUTIVO. Que é o resultado de quase 8 anos de uma mudança no estilo de vida e forma de treinamento que melhoraram significativamente minha qualidade de vida.

Neste site vocês podem encontrar muitas informações e dicas  muito úteis.

A partir de hoje as postagens que forem colocadas aqui também serão postadas no blog do site do Método Evolutivo.

Na postagem de hoje apresento um dos fundamentos do Método Evolutivo, a Teoria da Incompatibilidade.

Aproveitem e leitura e curtam o site MÉTODO EVOLUTIVO.



Método Evolutivo, Genético, Estilo de Vida, Saúde e Aptidão Física

No mundo inteiro a mortalidade por doenças degenerativas, como as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e outras, aumentaram na última década. Em 2012 elas foram responsáveis por 38 milhões de mortes, o que representou 68% de todas as mortes no mundo [1]. Entre as pessoas com menos de 70 anos essas doenças representam 52% das causas de mortes [1]. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as doenças degenerativas, tendo sido responsáveis por 17,5 milhões de óbitos em 2012. Como pode ser visto na figura abaixo, as doenças cardiovasculares isquêmicas e o acidente vascular cerebral lideram as causas de mortes. Infelizmente a perspectiva futura não é positiva no que diz respeito a essas doenças. 
Em relação ao Diabetes estimasse que nos próximos 20 anos o número de diabéticos irá dobrar na África, chegando a 35 milhões de casos [2].



Nós brasileiros também estamos sendo afetados por esse fenômeno. No Brasil as pessoas entre 30-70 anos apresentam 19,4% de risco de morte por doenças degenerativas [1], a isquemia cardíaca causou 139 mil mortes em 2012 [3] e as principais causas reproduzem as estatísticas mundiais. Dados de 2016 mostram que o diabetes foi responsável por cerca de 30 mil óbitos e os níveis elevados de glicose sanguínea por mais de 45 mil [4].

Nos últimos anos a ciência médica teve inúmeros avanços, entre eles podemos citar:
  • ·      Novas tecnologias para o tratamento do câncer de próstata;
  • ·      Medicações antipsicóticas de última geração;
  • ·      Regressão da perda de visão;
  • ·      Primeiro bebê de um útero transplantado;
  • ·     Grandes avanços no tratamento da hepatite C, doenças autoimunes, reumatismo e melanoma;
  • ·      Novo fármaco para insuficiência cardíaca;
  • ·      Avaliação pré-natal mais completa;
  • ·    Melhor estratégia de tratamentos e prevenção nas doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer;
  • ·      Estruturas orais 3D para dentes mais fortes;
  • ·      Lentes de contato inteligentes;
  • ·      Primeiro tratamento oral para a artrite psoriática;
  • ·      Criação de um pâncreas artificial.


Mesmo com todos esses avanços as doenças degenerativas continuam crescendo e sendo as maiores causas mortalidade e de aumento da morbidade. Mas como isso é possível? Uma das explicações possíveis pode estar no fato de que a grande maioria dos avanços médicos, como podemos ver na lista anterior, estão relacionados com o tratamento e não com a prevenção das doenças.

Com o quadro atual e a perspectiva futura das doenças degenerativas podemos inferir que todos os esforços gastos na sua prevenção estão falhando. Mas estão falhando por qual motivo? Muito provavelmente por um equívoco na identificação dos fatores de risco que levam a essas doenças.

Acredito que a melhor hipótese que explica esses acontecimentos é uma teoria chamada de Teoria da Incompatibilidade. A teoria da incompatibilidade [5] diz que nossos genes evoluíram através da seleção natural em busca de uma função aprimorada para os ambientes em que vivemos no período pré-agricultura, que atualmente são completamente diferentes. Grandes alterações iniciaram após o surgimento da agricultura, mas a seleção natural é lenta e nossos genes permanecem adaptados às condições ancestrais. Isso resulta em uma incompatibilidade entre nosso organismo e as circunstâncias da vida moderna, levando ao desenvolvimento das doenças degenerativas.

Um bom exemplo de como nossos hábitos de vida afetam nossa saúde é a incidência de câncer de pulmão entre os anos de 1930 e 1990 nos EUA. Em 1930 o câncer de estômago era o câncer com maior incidência entre os homens e o segundo câncer mais frequente entre as mulheres. Já o câncer de pulmão era o câncer de menor incidência em ambos os sexos [6]. Porém esse quadro se alterou sessenta anos depois, em 1990 o câncer de pulmão era o mais mortal dos diferentes tipos de câncer, tanto para homens como para as mulheres (como pode ser visto nos gráfico que seguem).



Essas alterações na incidência do câncer de pulmão coincidem com o aumento do uso de cigarros nos EUA no mesmo período. Em 1930 os americanos passaram pela Grande Depressão, e ai o número cigarros fumados por habitante, que já vinha aumentando, apresentou um pico [7]. O uso de cigarros por habitante subiu até 1970 e depois apresentou um decréscimo até 1990. Porém nesse período esse número ainda era bastante elevado em relação a 1930, veja o gráfico que segue.


A teoria da incompatibilidade sustenta aquilo que na área da saúde é chamado de prevenção baseada na evolução. O objetivo é caracterizar as diferenças entre o estilo de vida no ambiente ancestral e o moderno, identificar quais dessas características estão relacionadas com o inicio e o progresso de uma doença degenerativa específica e usar essas informações de forma integrada com a evidência científica para a elaboração de recomendações consistentes e eficazes para a realização de estudos sobre fisiopatologia [5].

O Método Evolutivo, assim como a prevenção baseada na evolução, tem como matéria prima da sua fundamentação a Teoria da Incompatibilidade. Assim, os dois comungam do mesmo princípio de que a causa das doenças degenerativas é a incompatibilidade entre o ambiente que nossos genes esperam encontrar e aquele que oferecemos a eles. Esse princípio em commun nos leva a uma questão importante: poderia um estilo de vida mais semelhante ao dos nossos ancestrais evitar a diminuição das nossas capacidades funcionais, o ganho de gordura corporal, o surgimento de diferentes patologias e a diminuição da qualidade de vida no transcorrer do processo de envelhecimento?

Uma forma de buscar essa resposta é estudar populações atuais, que tenham um estilo de vida semelhante ao dos nossos ancestrais e/ou mantenham hábitos que possam ser caracterizados como não industrializados ou não ocidentalizados. Dentre estas populações podemos citar os:
  • ·         Cayapo, Xavante e Yanomani no Brasil;
  • ·         Trio e Wajan no Suriname;
  • ·         Cashinahua no Peru;
  • ·         Inuit no Canadá;
  • ·         Mabaan no Sudão;
  • ·         Bushmen no Kalahari/África;
  • ·         Comunidade de Kitava na Papua Nova Guiné;
  • ·         Athabasan no Alasca.

Nas sociedades ocidentalizadas é considerada quase que inevitável à redução ou a perda de duas importantes funções fisiológicas, a audição e a visão. Porém em sociedades não ocidentalizadas a visão e audição podem ser mantidas com o passar da idade. 541 sujeitos da tribo dos Mabaan do Sudão [8] passaram por teste de audição e praticamente nenhum deles mostrou diminuição auditiva com a passar da idade. Em outro estudo [9] foram realizados testes de deficiência visual de cores de Ishihara em 466 homens e 437 mulheres indígenas das tribos Yanomani, Cayapo e Xavante no Brasil. Foram encontradas pessoas com deficiência visual em três das quatro tribos estudadas, porém os resultados sugerem que essas deficiências são menores nos indígenas do que na população em geral.

A manutenção da audição constante provavelmente esta relacionada com o fato de que a população estuda [8] não possuia fontes de ruídos que pudessem gera frequências sonoras acima de 80 decibéis, que é considerado o valor seguro para nossos ouvidos (veja figura abaixo), mostrando que seu ambiente não possui um dos fatores importantes para o desenvolvimento da diminuição ou perda auditiva.



Para a grande maioria das pessoas as alterações de ganho de gordura corporal ou dificuldades mecânicas são algo inerente ao envelhecimento. É extremamente comum que caracterizemos os idosos dessa forma e isso fica claro nos símbolos utilizados para representá-los em estacionamentos ou outros locais.



Nas populações industrializadas alterações na composição corporal e o processo de envelhecimento estão associados. Entre essas alterações estão incluidas aumento da gordura corporal e sua redistribuição dos membros para a região central. Essas mudanças segundo alguns autores [10] podem ser resultado da genética, de mudanças na dieta, no nível de atividade física ou de uma combinação desses fatores.    

Uma forte evidência de que a genética possa não estar associada com essa mudança na gordural corporal e sim os fatores ambientais, como a dieta e o estilo de vida ativo, é o fato de que comunidades indíginas na América do Sul não apresentam esse tipo de alteração com o passar da idade. Nessas populações a gordura corporal subcutânea se mantém estável dos 20 anos de idade até depois dos 60 anos [8, 11, 12], contradizendo o que normalmente acontece nas populações industrializadas. Quando são comparadas populações de hábitos primitivos de outras regiões do mundo com as populações ocidentalizadas, essas diferenças na composição corporal e gordura subcutânea também são demonstradas [13].

As comunidades com hábitos que se assemelham aos dos nossos ancestrais também costumam apresentar maiores níveis de aptidão física que as comunidades industrializadas. Um trabalho [14] avaliou aptidão cardiorrespiratória e a força de uma população de esquimós vivia no Nordeste do Canadá. Os resultados demonstraram que em todas as idades e em ambos os sexos a aptidão cardiorespiratória foi maior do que nos norte americanos de idade semelhante. Na faixa etária entre 20-30 anos os esquimós tiveram uma vantagem de 25% e isto aumentou para 36% quando foram comparados os caçadores ativos na mesma faixa etária. A força de extensão do joelho foi 50% maior nos esquimós do que nos homens americanos. Não pode deixar de ser registrado que essas diferenças nos níveis de aptidão física também são demosntradas entre as crianças de comunidades de esquimós e crianças de comunidades ocidentalizadas [15].

Como já citado anteriormente as duas maiores causas de morte no Brasil e no mundo são o acidente vascular cerebral (AVC) o e o infarto agudo do miocárdio (IAM). Estas duas causas foram responsáveis por cerca de 14 milhões de mortes em 2012. É curioso notar que as pessoas que apresentam hábitos de vida mais condizentes com as nossas “expectativas genéticas”, praticamente não apresentam risco de desenvolvimento dessas doenças. Em 1993 roi realizado um trabalho [16] com a população da ilha de Kitava na Papua Nova Guiné, foi avaliada a frequência de mortes subidas, dor torácica relacionada com esforço e agina em 213 adultos entre 20-96 anos. Não foi encontrado nenhum caso de AVC ou de doença cardíaca isquêmica, que poderia levar a um IAM, nessa população.

Entre as prováveis causas para essa aparente inexistência de AVC e IAM na população de Kitava, está a manutenção da pressão arterial normal e da composição corporal com o passar da idade [13]. Curioso notar que quando os valores de colesterol HDL e triglicerídeos dessa população são comparados com seus pares ocidentalizados, eles não apresentam diferenças significativas [13, 16]. Mostrando que essas vairáveis podem não ser pré-requisitos para uma menor incidência de IAM e AVC [13,17].

Um dos importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares e AVC são as alterações no metabolismo da insulina [18], mais importantes do que os níveis de glicose sanguínea [19]. As populações não ocidentalizadas nas apresentam as alterações negativas relacionadas com esse hormônio [20-22], sendo essa outra provável causa da ausência dessas doenças entre essas populações.

Quando nos referimos às vantagens em relação à saúde e a aptidão física das populações que possuem hábitos semelhantes aos dos nossos ancestrais do perído pré-agricultura, muitos citam como um dos principais motivos para essas diferenças a carga genética destas populações. Porém muitas características de determinadas populações refletem uma adaptação a algum fator ambiental e não a uma diferenciação genética geral [23]. Isso fica demonstrado pelo fato de que quando as populações não industrializadas são expostas a um estilo de vida ocidental, estas adquirem as características negativas de sáude e aptidão física inerentes a esse estilo de vida [24-28].

Nás regiões árticas do Canadá, Alasca e Groenlândia pode ser encontrada uma nação indígena chamada Inuit. No século XV eles tiveram os primeiros contatos com o “homen branco” caçadores e pescadores de bacalhau, desenvolvendo assim uma relação comercial com os europeos. No ano de 1632 iniciaram as missões jesuíticas para promover a aculturação e cristianização dos Inuit. Entre 1984 e 1994 Rode e Shephard, pesquisadores da Universidade de Toronto no Canadá, realizaram estudos [24-26] avaliando diferentes aspectos da adoção de um estilo de vida ocidentalizado por esta população.

Em um estudo publicado em 1984 [24] eles avaliaram os resultados de 10 anos de exposição a “civilização branca” ocorridos sobre 201 homens (idade entre 9-76 anos) e 143 mulheres (idade entre 10-69 anos) da comunidade Inuit de Igloolik no nordeste do Canadá. Foram realizados testes de exaustão máxima para avaliação da condição cardiorrespiratória e testes de extensão do joelho para avaliação da força muscular em 1980. Que depois foram comparados com os resultados de 1970. Os resultados dessa comparação demonstraram um decréscimo de 15% na capacidade cardiorespiratória, um aumento da massa corporal de 2-4 kg, acúmulo de gordura subcutânea e diminuição da força de extensão do joelho. Estas alterações afetaram todos os sujeitos, exceto os meninos entre 9-15 anos. Isso sugere que a perda de aptidão física está relacionada com a adoção de um estilo de vida sedentário, como a utilização de veículos no lugar de caminhadas na neve.

Em 1993 [25] foi examinada a associação entre as ativades de lazer não sedentárias e vários índices de aptidão em 165 homens entre 13-39 anos e 95 mulheres entre 13-29 anos na mesma comunidade do estudo de 1984 [24]. Os indivíduos ativos conservaram os elevados níveis de aptidão observados nos testes de 1970, mostrando substancial vantagem sobre seus pares sedentários em termos de aptidão cardiorespiratória (27,7% homens, 21,4 % mulheres) e gordura subcutânea (18,3% homens e 5,9% mulheres). Estes também demonstraram menor tendência de diminuição da força extensão do joelho (8,3% homens e 2,0% mulheres). Os autores concluíram o trabalho afirmando que um dos principais desafios era fazer com que os Inuit passassem a ter um estilo de vida saudável, aumentando a proporção de moradores fisicamente ativos para mais do que 18,8% dos homens e 11,6% das mulheres.

Finalmente em 1994 [26] eles avaliaram os resultados de 20 anos de exposição a “civilização branca” ocorrido na comunidade Inuit de Igloolik, concluindo que a aptidão desta comunidade parece ter sido deteriorada marcadamente com a adoção de uma estilo da vida sedentário e que as autoridades tinham que desenvolver métodos eficientes de promoção de um estilo de vida que seja culturalmente apropriado para as populações das regiões árticas.

Colaboram com as informações levantadas nos estudos de Rode e Shephard [24-26], em 2013 uma revisão sistemática da literatura [27] demosntrou que nos últimos 50 anos os nativos americanos do Canadá e nos Estados Unidos tem apresentado menores níves de aptidão física e atividade física, tanto os adultos com as crianças e jovens.

Além das mudanças nos hábitos ligados à aptidão e atividade física, as populações das regiões árticas também mostram alterações nos hábitos alimentares depois da sua exposição a “civilização branca”. Hábitos alimentares que aumentaram a incidência de problemas de saúde como o diabetes tipo 2. Um estudo [28] realizado com 15 comunidades de índios Athabascan, nativos do Alasca, foi realizado para examinar a dieta, o peso corporal e a intolerância a glicose. Os resultados demonstraram que os indivíduos com 60 anos ou mais, que consumiam uma maior quantidade de alimentos não indígenas apresentavam uma taxa de diabetes do tipo 2 que era o dobra da taxa apresentada pelos que tinham um maior consumo de alimentos indígenas. A incidência de intolerância a glicose também foi maiorno grupo de inidivduos que tinham uma maior ingestão de alimentos não indígenas.

A possibilidade que de adoção de que uma alimentação diferente daquela que culturalmente os indivíduos do estudo citado anteriormente [28] estavam acostumados a consumir seja a causa do maior risco de diabetes, de sobrepeso e de intolerância a glicose é reforçada por outros trabalhos [29-31], onde foi demonstrado que uma alimentação baseada em carne, peixes, vegetais e frutas pode ser extremamente eficaz para alterções positivas nos quadros de AVC, IAM, obesidade e diabetes.

A reposta para a pergunta sobre se a influência de um estilo de vida como o dos nossos ancestrais caçadores coletores seria positiva sobre diferentes aspectos da nossa saúde precisaria que este estilo de vida fosse, dentro do possível, aplicado nos dias de hoje. E depois de algumas gerações, verificássemos se as variáveis de saúde teriam apresentado melhoras. Como essa abordagem levará tempo para acontecer, podemos fazer uso de um interessante estudo [32] realizado durante nos anos de 2011, 2012 e 2013. Que envolveu 53 pessoas saudáveis (28 mulheres e 25 homens) com idade média de 38 anos.

Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência sobre diferentes aspectos da saúde de um período de 10 dias, onde um estilo ancestral foi mantido.  Os participantes passaram este período vivendo ao ar livre nos Pirineus Espanhóis. A comida foi fornecida pela organização, a ingestão de alimentos foi planejada antes da viagem com base na ingestão média diária de alimentos da população Hadzabe, que tradicionalmente vive na Tanzânia.

No primeiro dia foram realiazadas medidas antropométricas e amostras de sangue. Os exames sanguíneos foram realizados com os participantes em estado de jejum. Eles faziam caminhadas diárias de aproximadamente 14 km para atingir uma fonte de água, essa caminhada incluiu alterações na altitude até 1.000 m. Os participantes carregavam mochilas com um peso médio de 8 kg.

Foram consumidas duas refeições diárias. A primeira era fornecida pela organização e a segunda preparada depois da chegada ao local de acampamento. Animais, incluindo patos, galinhas, perus, coelhos e peixes, foram entregues vivos e então preparados pelos participantes. Os peixes foram pegos com redes no rio Noguera.

Os participantes dormiam ao ar livre em sacos de dormir sobre pequenos colchões infláveis. As temperaturas externas variaram de 22 a 42 ° C durante a luz do dia, enquanto as temperaturas noturnas variaram de 12 a 21 ° C. Trabalho manual para limpeza das trilhas nas montanhas foi realizado conforme acordo feito com o Governo da Catalunha.

Os resultados do período de 10 dias geraram diminuição do peso e do IMC de 4,8%, da circunferência da cintura de 5,6% e da relação cintura/quadril de 2,5%. Considerando os exame clínicos ocorrereu uma diminuição da glicose de 12,5%, na insulina de 55%, na hemoglobina glicada (HbA1c) de 1,8%, nos triglicerideos de 20%, no colesterol total de 13,7%, no colesterol LDL 21,9% e relação triglicerideos/HDL colesterol de 19,3%.

Em relação á síndrome metabólica, que é uma alteração no metabolismo da insulina. que pode levar a complicações como  diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, ovários poliscisticos, esteatose hepática não alcóolica (gordura no fígado), algumas formas de câncer e apnéia do sono [33]. O período de 10 dia gerou uma provável redução dos riscos. Pois, dos cinco critérios utilizados para o diagnóstico de síndrome metabólica [33] houve alterações positivas em três deles, redução do gordura abdominal (circunferência da cintura), redução na glicose sanguínea em jejum e redução dos triglicerídeos.
 
Todas as informações levantadas até aqui demonstram que utilização da anásile e identificação dos possíveis hábitos de vida dos nossos ancestrais pré-agricultura, assim como o estudo do estilo de vida de populações atuais não ocidentalizadas, pode ser extremamente eficaz na criação de uma matriz evolutiva que fundamenta a formulação de programas que têm como objetivo a saúde e a aptidão física. Isso se torna ainda mais importante, pois atualmente nossos esforços na prevenção de uma série de doenças degenerativas não vêm se mostrando eficazes e fazendo que adotemos uma cultura que prioriza o tratamento e não a prevenção.

Carlinhos

Referências
[1] Organização Mundial da Saúde. 2016. World Health Statistic 2016.
[5] Eaton SB, et al. 2002. Evolutionary health promotion. doi:10.1006/pmed.2001.0876
[6] Landis SH, et al. 1998. Cancer statistics. DOI: 10.3322/canjclin.48.1.6
[9] Salzano FM, Neel JV. 1976. New data on the vision of South American Indians. PMID: 1084771
[10] Matsudo SN, et al. 2000. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. DOI: http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v8i4.372 
[11] Glanville EV, Geerdink RA. 1970. Skinfold thickness, body measurements and age changes in Trio and Wajana Indians of Surinam. DOI: 10.1002/ajpa.1330320316
[12] Johnston FE, et al. 1971. The anthropometric determination of body composition among the Peruvian Cashinahua. DOI: 10.1002/ajpa.1330340310
[14] Rode A, Shephard RJ. 1971. Cardiorespiratory fitness of an Arctic community. PMID: 5110995
[18] Rodrigues TC, et al. 2010. Síndrome metabólica, resistência à ação da insulina e doença cardiovascular no diabete melito tipo 1. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2010000100020
[20] Joffe BI, e tal. 1971. Metabolic responses to oral glucose in the Kalahari Bushmen. PMCID: PMC1799259
[21] Spielman RS,et al. 1982. Glucose tolerance in two unacculturated Indian tribes of Brazil. PMID: 6751901
6735805
[23] Templeton AR. 2013. Biological Races in Humans. doi:  10.1016/j.shpsc.2013.04.010
6735805
[28] Murphy NJ, et al. 1995. Dietary change and obesity associated with glucose intolerance in Alaska Natives. DOI: 10.1016/S0002-8223(95)00184-0
[29] Lindeberg S, et al. 2003. Biological and Clinical Potential of a Palaeolithic Diet. http://sci-hub.cc/10.1080/13590840310001619397
[30] Spreadbury I, Samis AJW. 2013. Evolutionary Aspects of Obesity, Insulin Resistance, and Cardiovascular Risk. doi:10.1007/s12170-013-0293-1

[33] Reaven GM. 2005. The insulin resistance syndrome: definition and dietary approaches to treatment. DOI: 10.1146/annurev.nutr.24.012003.132155

terça-feira, 12 de julho de 2016

Para diabetes é melhor comer 6x/dia do que 2x/dia?!

Se você fizer pesquisa rápida no Google sobre quantas vezes por dia devemos comer irá encontrar as seguintes afirmações:

“Uma ou duas são um desastre; se você não se alimenta pelo menos 3x você esta causando sérios estragos ao seu metabolismo. Fazer três refeições devidamente balanceadas e malhar adequadamente trará alguns resultados, mas metade dos resultados que teria com refeições completas. Se tiver naturalmente um metabolismo lento, você poderá ter dificuldades com apenas três refeições, causando estragos metabólicos.” [link]

“Devido à correria do dia-a-dia, falta de tempo, dificuldade de levar lanches de casa para o trabalho e muitas vezes a falta de opção de alimentos mais saudáveis, muitas pessoas continuam ainda fazendo apenas 3 refeições ao dia, aquelas básicas: café da manhã, almoço e janta. Muitas ainda nem café da manhã tomam, apena comem algo no meio da manhã. Mesmo que se fale muito nas entrevistas dadas por profissionais nutricionistas na televisão, jornais e revistas de que o mais correto é fracionar em 5 a 6 refeições ao dia, percebemos que esse é um hábito bastante difícil de muitas pessoas seguirem.” [link]

“Devemos fazer entre 5 e 6 refeições por dia, ou seja, uma refeição a cada 3 horas, não importa se objetivo é emagrecer, engordar ou manter o peso. As refeições do dia devem então ficar divididas da seguinte forma: Café da manhã; Lanche da manhã; Almoço; Lanche da tarde; Jantar; Ceia.” [link]

Porém um trabalho publicado [1] em 2014 na revista Diabetologia, que foi realizado em Praga na República Tcheca, demonstrou que em relação às pessoas portadoras de Diabetes tipo 2 é melhor fazer duas refeições diárias ao invés de seis. 

Esse trabalho teve como objetivo comparar os efeitos de um regime alimentar com 6 refeições diárias (A6) versus um regime de 2 refeições diárias (B2) sobre o peso corporal, conteúdo de gordura no fígado, resistência á insulina e outras variáveis.

Para isso 54 homens e mulheres entre 30-70, com  IMC entre 27-50 kg/m², portadores de diabetes de tipo 2 e usuários medicação para controle da glicose da sanguínea seguiram dois diferentes tipos de regimes alimentares hipocalóricos (A6 e B2) por 12 semanas (período total de 24 semanas). Qual dieta foi seguida por cada individuo nas primeiras 12 semanas e também no segundo grupo de 12 semanas foi determinada aleatoriamente (sempre 27 pessoas em cada grupo). A dieta de ambos os regimes tiveram a mesma quantidade de macro nutrientes e calorias (500 Kcal, 50–55% de carboidratos, 20–25% de proteínas e menos de 30% de gordura).

Os resultados demonstraram que o peso corporal e a gordura no fígado diminuíram em ambos os grupos, porém a diminuição destas variáveis foi mais significativa no grupo B2 do que no grupo A6. A sensibilidade à insulina amentou em ambos os grupos, porém a melhora do grupo B2 foi maior do que no grupo B6. A glicose sanguínea em jejum diminuiu no grupo B2, mas aumentou no grupo A6. Nenhum dos regimes alimentares gerou efeitos adversos.



Os autores concluíram que o regime alimentar, que permitia somente o café da manhã e o almoço, reduziu o peso corporal, a gordura no fígado e aumentou mais a sensibilidade à insulina do que um regime alimentar com a mesma quantidade calórica com seis refeições diárias. Os resultados sugerem que pacientes com diabetes tipo 2 em um regime dietético hipocalórico terão melhores resultados se ingerirem duas grandes refeições por dia ao invés de seis refeições menores.

As informações deste estudo não colaboram com as informações que são amplamente divulgadas por um significativo número de profissionais da saúde. Em relação ao tratamento do Diabetes a contradição entre as recomendações divulgadas e os dados científicos voltou a se repetir em 2015, quando foi publicado um importante trabalho [2] onde foram apresentados 12 motivos pelos quais é mais efetiva a restrições de carboidratos (low carb) do que das gorduras (low fat) para o tratamento efetivo do Diabetes.

O estudo realizado em Praga não se utilizou de um regime alimentar low carb e além de restringir as gorduras em menos de 30% das colorias totais, também restringiu a ingestão de gorduras saturadas em no máximo 7% e a ingestão de colesterol em 200mg por dia. Esse tipo de composição dos macro nutrientes de uma dieta não são os mais recomendados para o controle do diabetes [2] como também para o emagrecimento. O que de certa forma ressalta os efeitos positivos de períodos mais longos de jejum para diabéticos. 

Seria muito interessante que este estudo fosse repetido utilizando-se regimes alimentares de 2 e 6 refeições por dia, mas com um composição de macro nutrientes lowcarb, e dessa forma ver quais seriam os resultados.

Carlinhos

terça-feira, 14 de junho de 2016

Exercício Aeróbico Extremo e o Coração

This text is a translation. The original text can be read here.

No último domingo (12/6/16) ocorreu  a 33° Maratona Internacional de Porto Alegre, foram cerca de 7000 considrando todas as distâncias da prova (42km, 21km, 10km, 5 km e 3km). Foi um grande evento e durante todo o domingo foi possível ler nas redes sociais histórias que exaltavam o desempenho, o esforço e a superação dos participantes.


Aproveitando o tema resolvi postar hoje a tradução livre de um texto de Lisa Rosenbaum, correspondente do New England Journal of Medicine e cardiologista no Brigham and Women´s Hospital de Boston. O texto original pode ser lido aqui. Esse texto fala sobre o treinamento aeróbico e quando ele poderia ser prejudicial para a saúde cardiovascular.



É um texto muito interessante que levanta uma hipótese que deve ser considerada e analisada através da ciência baseada em evidência e da abordagem evolutiva.

Boa leitura!


Exercício Extremo e o Coração

Todos os corredores já ouviram falar de tragédias que envolveram praticantes dessa atividade. O maratonista Alberto Salazar aos quarenta e oito anos sofreu um ataque cardíaco e “esteve” morto por catorze minutos antes que um “stent” desbloqueasse uma de suas artérias coronárias e salvasse sua vida. Micah True, o ultra maratonista que é personagem central do best-seller "Born to Run", saiu para uma corrida de 19 quilomêtros no deserto do Novo México e mais tarde foi encontrado morto. Ryan Shay morreu durante o treinamento para a maratona dos Jogos Olímpicos de 2008. Há também a história da primeira maratona em si, quando Filipides depois de completar os 42 quilomêtros, desmaiou e morreu. Estas mortes são ainda mais chocantes porque a condição física das pessoas falecidas parece protegê-las de doenças cardíacas. Centenas de estudos, bem como a nossa própria intuição, associam o exercício com a saúde cardíaca. Mas, nos últimos anos, um pequeno grupo de cardiologistas tem investigado uma hipótese que considera a ocorrência dessas tragédias não tão chocante, afinal de contas: eles acreditam que o excesso de exercício realmente danifica o coração.

O maior proponente desta hipótese é James O'Keefe, cardiologista e diretor de cardiologia preventiva do Mid America Heart Institute, em Kansas City, Missouri. Em uma palestra do TEDx em 2012, bem como em uma série de editoriais e comentários, O'Keefe argumenta que o exercício além de um certo limite pode levar a doenças cardíacas e, possivelmente, diminuir os benefícios do exercício moderado. Em um comentário onde ele é coautor, intitulado "Eventos Cardiovasculares Potencialmente Adversos do Exercício Excessivo", O'Keefe sugere que exercício extremo "não é propício para a boa saúde cardiovascular a longo prazo" e adverte contra a suposição de que, se o exercício moderado é bom, mais exercício intenso e prolongado deve ser melhor. "Darwin estava errado sobre uma coisa", diz O'Keefe. "Não é a sobrevivência do mais apto, mas a sobrevivência do moderadamente em forma”.

Para aqueles de nós que acreditam no ditado "a virtude esta no meio termo" este argumento faz sentido. O exercício continua a ser uma das melhores coisas que você pode fazer para melhorar sua saúde cardiovascular, mas você certamente não precisa correr maratonas para conseguir os benefícios. Quantidades moderadas de exercício ao longo da vida são perfeitamente adequadas. Os atletas que se exercitam de forma extrema geralmente o fazem para fins que não a sua saúde, o fazem pela competitividade, exigência profissional ou outras razões. Mas reconhecer que o exercício além de certa quantidade não gera maior benefício cardiovascular é bem diferente do que sugerir que o exercício extremo possa causar dano cardiovascular.

O'Keefe argumenta que o exercício além de um certo limiar aumenta o risco cardiovascular. Dada à complexidade do coração, o argumento é difícil de ser questionado. Para o coração para fazer seu trabalho, as artérias coronárias deve estar desobstruídas, os impulsos elétricos precisam ser coordenados e rítmicos e próprio músculo deve ser capaz de relaxar. O exercício afeta estes sistemas tanto direta como indiretamente, ao mitigar muitos dos fatores de risco, como obesidade e a pressão arterial elevada, que são as principais causas de doença de coração. Como o exercício afeta todos estes sistemas, O'Keefe pode estar certo e errado ao mesmo tempo.

Primeiro, a má notícia para os maratonistas e outros atletas de resistência extrema. Excesso de exercício tem sido consistentemente associado com fibrilação atrial, uma perturbação do ritmo que aumenta o risco de acidente vascular cerebral e deixa algumas pessoas se sentindo fracas e sem fôlego. Um estudo analisou as taxas de fibrilação atrial em mais de cinquenta mil homens suecos que tinham participado da Vasaloppet, uma prova cross-country de esqui de noventa quilômetros, ao longo de um período de dez anos. Aqueles que completaram o maior número de provas ou que tiveram os melhores tempos pareciam ter um maior risco de fibrilação atrial.



Então, o quão alto é o risco? A magnitude varia, mas alguns dados sugerem que o risco de fibrilação atrial para atletas extremos pode ser cinco vezes maior quando comparado com pessoas sedentárias. Como isso soa de forma dramática, Brian Olshansky, um especialista cardíaco de Iowa e um corredor ávido, ajudou a esclarecer o contexto: "Digamos que o risco de vida de uma pessoa com fibrilação atrial é de 0,3 por cento", disse ele. (O risco varia dependendo de vários fatores, como idade e obesidade) "Um aumento de cinco vezes ainda deixa o risco de vida por fibrilação atrial em apenas 1,5 por cento”.

As estimativas de risco podem ser difíceis e “podem nos fazer quebrar a cabeça”, no entanto, não importa o quão bem nós podemos prever a probabilidade de algo acontecer no futuro, uma vez que aconteça a probabilidade passa a ter pouca ou nenhuma importância. Pode ser por isso que John Mandrola, um médico cardiologista do Baptist Medical Associates, em Louisville, Kentucky, adverte cada vez mais contra o exercício extremo. Mandrola foi um ciclista de elite durante décadas, e alguns anos atrás, ele caiu de sua bicicleta. Apesar das dolorosas fraturas nas costelas, ele rapidamente retomou a atividade; em seu primeiro treino de 32 quilômetros após o acidente, Mandrola começou a sentir falta de ar, tonturas e perdeu suas forças. Ele sentiu a sensação que havia lhe sido descrita diversas vezes por seus pacientes, a sensação de uma “borboleta em sua garganta”. Ele estava em fibrilação atrial.

Uma vez que o medo imediato de acidente vascular cerebral passou, o medo de Mandrola tornou-se existencial: Teria sua vida mudado irremediavelmente? Durante anos, ele tinha sido um ciclista que passou a ser um cardiologista. Agora ele era apenas um cardiologista. Alguns cientistas postulam que a inflamação pode desempenhar um papel importante na fibrilação atrial e Mandrola começou a ver suas escolhas de estilo de vida como "a inflamação do excesso." Ele acredita que a ideia do esforço extremo, a mentalidade de que nunca é suficiente pode gerar efeitos ruins muito além daqueles que podemos atribuir ao excesso de atividade física.

Como Mandrola, O'Keefe era uma ávido corredor. Ele ganhou o Sprint Triathlon de Kansas City cinco anos seguidos. Porém, na meia-idade, ele decidiu mudar seus caminhos. No início de sua palestra no TEDx, refletindo sobre seus hábitos anteriores, ele diz: "Eu estou preocupado que eu possa ter cometido um erro fatal". Em um editorial, que reflete em grande parte a palestra do TEDx, O'Keefe e seu colega Carl Lavie sugerem que o exercício vigoroso deve ser limitado "entre trinta e cinquenta minutos por dia." Eles concluem que "correr longas distâncias, muito rápido e por muitos anos, pode acelerar seu progresso em direção a linha de chegada da vida." o editorial recebeu grande atenção da mídia e de certa forma uma atenção alarmista, incluindo um artigo no Wall Street Journal intitulado "um tênis de corrida no túmulo".

Existe alguma razão para acreditar que os anos de competição de resistência de O'Keefe irão encurtar sua vida, ou piorar sua saúde cardiovascular? Até o momento, não. Primeiro de tudo, as informações vindas de estudos nessa área, como os dados de Paul T. Williams do National Runners’ Health Study, sugerem que os factores de risco para doença cardiovascular continuam a melhorar com o aumento da quantidade de exercício. Quando se trata de associação específica entre o exercício extremo e mortalidade, associações estatisticamente rigorosas são difíceis de encontrar, porque em qualquer população poucas pessoas, do ponto de vista relativo, se exercitam de forma extrema.

Por exemplo, um estudo citado por O'Keefe para sugerir que os benefícios de mortalidade são perdidos com o aumento demasiado do volume e intensidade do exercício analisarou as taxas de mortalidade entre quase dezoito mil corredores em Copenhague. Os autores do estudo, publicado no American Journal of Epidemiology, concluíram que, quando comparando com os não corredores, corredores viveram, em média, de cinco a seis anos a mais. Mas, em sua discussão sobre se o exercício mais intenso foi associado com algum tipo de prejuízo, os autores foram muito mais circunspectos: "Não temos evidência para apoiar que correr mais rápido ou mais frequentemente seja prejudicial, nem os nossos dados limitados podem desconsiderar essa possibilidade”.

Outro estudo citado no editorial de O'Keefe e Lavie descobriu que, em mais de quatro mil pessoas em Taiwan, quarenta e cinco minutos de exercício vigoroso por dia foi associado com uma diminuição no risco de morte de quarenta por cento. Ao descrever este estudo, O'Keefe e Lavie citam que "além dos 45 minutos, um ponto de retorno decrescente é alcançado, depois desse ponto o exercício não parece traduzir-se em menor risco de morte." Eles compararam o exercício aos medicamentos , uma analogia O'Keefe frequentemente faz. "Como pode ser esperado com qualquer medicamento potente, uma dose insuficiente não vai conferir os benefícios ideais, enquanto que uma dose excessiva pode causar danos e até mesmo a morte."

Mas, antes da publicação do editorial, O'Keefe e seus colegas escreveram uma carta aos autores do estudo de Taiwan. Eles perguntaram se os dados de Taiwan realmente sugeriam que o exercício excessivo poderia ser prejudicial. A carta é citada no editorial, Wen escreve: "Nós não fomos capazes de identificar um limite superior de atividade física, seja moderada ou vigorosa, acima do qual mais malefício do que benefício poderia ocorrer em relação a expectativa."

O'Keefe comentou sobre a resposta de Wen, chamando a atenção para que aquilo que foi considerado exercício “vigoroso" no estudo de Taiwan era muito menos intenso do que o que os médicos nos EUA considerariam “vigoroso”. Ele permanece, assim, preocupado com a alta intensidade, com a duração exagerada, como nas maratonas. Embora reconhecendo que todos os dados que temos são observacionais e, portanto, "especulativos", ele afirmou que "enquanto não parece que exagerar nos exercícios possa reduzir a longevidade, parece que isso não diminui os benefícios gerados pelo exercício menos intenso”.

Depois da analise dos dados e de considerar a opinião de especialistas na área, parece que entre as pessoas sem doença cardiovascular conhecida não há dados convincentes para sugerir que a mortalidade é significativamente diferente para a realização exercícios moderados e mais intensos. Assim, não há maneira de definir com precisão um limite superior de exercício para um indivíduo saudável. Podemos suspeitar, no entanto, que parte daqueles que sustentam a ideia de que "muito exercício pode matá-lo", reconhecem o chamado paradoxo do exercício.  Paradoxo que afirma existir uma diminuição da probabilidade do risco de um evento cardíaco com a prática do exercício regular, mas, se você está destinado a ter um ataque cardíaco é mais provável que ele aconteça enquanto você estiver exercitando intensamente. É por isso que ninguém pode garantir que o exercício intenso é seguro. É também por isso que muitos pesquisadores têm tentado descobrir como tornar o exercício extremo o mais seguro possível.

Um estudo, conduzido por Aaron Baggish e Jonathan Kim e publicado no New England Journal of Medicine, examinou as taxas de parada cardíaca entre onze milhões de maratonistas durante um período de dez anos. Cinquenta e nove casos de parada cardíaca ocorreram durante a realização das provas, traduzindo-se em cerca de uma parada cardíaca para cada cento e oitenta e quatro mil participantes. Os homens apresentaram maior risco do que as mulheres, e as duas principais causas de morte foram cardiomiopatia hipertrófica (a principal causa de morte entre os jovens atletas) e doença arterial coronariana.

Em outro estudo que avaliou o tamanho do coração e seu funcionamento entre sessenta participantes da maratona de Boston enquadrados no grupo “não-elite”, Malissa Wood e Tom Neilan descobriram que, imediatamente após a corrida, uma percentagem de corredores apresentavam evidência de um aumento das câmaras coração e também aumento na sua rigidez. Além disso, duas das enzimas que sinalizam danos das células cardíacas tiveram um ligeiro aumento em um pouco mais da metade dos maratonistas. Isso ajuda a explicar por que o exercício pode desmascarar a doença existente. Como explicou Wood, "Se até mesmo os corações mais saudáveis após uma maratona aprecem com alterações das enzimas cardíacas ou demonstram função de bombeamento reduzida, aqueles com corações doentes provavelmente terão mais problemas”.

Isto quer dizer que aqueles que não são atletas profissionais deveriam abrir mão de participar de maratonas? Absolutamente não. Existem informações importantes, surgidas a partir desses estudos, sobre como completar com segurança uma maratona. O primeiro passo é treinar adequadamente. Talvez a descoberta mais importante do estudo de Wood seja que o grau de dano detectável era menor, ou completamente ausente, entre aqueles que tinham treinado, treinando mais de 28 quilômetros por semana, ao contrário daqueles que correram 22 quilômetros ou menos. Em segundo lugar, enquanto o exercício é uma das melhores coisas que você pode fazer para prevenir doenças cardiovasculares, aqueles que se exercitam não estão imunes. Começar um programa de exercício intenso na meia-idade não pode apagar danos as arteriais coronarianas resultantes de anos de tabagismo ou de pressão arterial não controlada. Finalmente, se você tem fatores de risco para doenças cardíacas, incluindo história familiar estes devem ser avaliados por um médico antes de iniciar um regime de exercícios intensos. Nós podemos fugir de algumas coisas, mas não podemos fugir daquilo que foi determinado pelos nossos genes.

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Antecipadamente agradeço! Abraços,

Carlinhos